Líder classista e professor que reascendeu a Aciu para a cidade - Thassiana Macedo – Repórter JM 11/12
Karim Abud Mauad é empresário, administrador de empresas, economista e engenheiro civil, acumula vasto currículo profissional de serviços prestados a Uberaba. Há 20 anos atua como professor universitário. Foi presidente, diretor e representante do Sinduscon/Uberaba, Sindicato da Indústria da Construção Civil, foi diretor da Aciu de 1997 a 2001, e, atualmente, é presidente da entidade, foi presidente do Rotary Clube Uberaba Portal do Cerrado. Na Prefeitura Municipal, atuou de setembro a dezembro de 2004 como diretor-geral da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento e hoje como secretário de Planejamento.
Amanhã acontece a eleição que escolherá a nova diretoria da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Uberaba, a Aciu. Os novos diretores tomarão posse em 31 de janeiro de 2012 com a missão de continuar a revitalização e a representatividade da entidade diante de comerciantes, industriais e empresários do ramo de serviços na cidade. Em dois mandatos, ou seja, pelo período de quatro anos, Karim Abud Mauad teve de enfrentar o desafio de reascender uma entidade que já tinha mais de 80 anos de atuação e vinha enfrentando importantes dificuldades financeiras, além de crises de identidade. Na entrevista especial do Jornal da Manhã de hoje, Karim faz um balanço do tempo em que esteve à frente da Aciu.
Jornal da Manhã – Nesta segunda-feira a Aciu promove a eleição para a nova diretoria da associação comercial. Que balanço o senhor faz do tempo que esteve à frente da gestão da entidade?
Karim Abud Mauad – O balanço é extremamente positivo, que quero separar em duas etapas, pois chegamos à Aciu em um momento de dificuldade para a vida da entidade, que se traduzia em uma insegurança financeira, porque tinha sido vendido um patrimônio pouco antes de chegarmos e recebemos a entidade no chamado vermelho ou negativo. No nosso entendimento, o grande diferencial da Aciu, enquanto entidade de classe, é que seguramente a história dos seus 87 anos se confunde com a história de Uberaba, sob vários aspectos. A Aciu foi, por diversas vezes, a Secretaria de Indústria e Comércio da cidade, quando ainda não se falava em serviços. Ela participou de vários momentos do comércio da cidade desde o asfalto, a vinda da Cemig. A Aciu não cuidou só do direito do associado no dia-a-dia, como a realização da primeira reunião que passou a discutir a vinda do gasoduto e da planta de amônia que foi na sala da presidência da Aciu, em que estavam presentes o Almir Guilherme Barbassa – diretor financeiro da Petrobras, o prefeito Anderson Adauto, eu e o diretor Manoel Rodrigues Neto. Ou seja, são momentos muito importantes na vida de Uberaba. Outro momento seriam os serviços educacionais.
JM – E quais foram as mudanças com relação à manutenção das universidades?
KAM – A Aciu tem o diferencial de se preocupar com Educação. O Barbassa se formou na Faculdade de Ciências Econômicas. O que faz a entidade ser reconhecida nacionalmente como uma associação diferenciada é justamente o sistema de Educação, ou seja, cuidamos da formação para a melhora da mão de obra de Uberaba e região, com qualidade e competência há 45 anos. Uns falaram em vender, outros em parcerias, mas no momento em que chegamos à entidade encontramos esta crise de identidade e com dificuldade financeira. No primeiro ano de gestão colocamos as contas em ordem. Publicamos balanço de 30 dias, de 100 dias, de três meses, os números foram divulgados, mas para ficar registrado, pegamos uma instituição com uma dívida de R$ 2,5 milhões. Nesses quatro anos, pagamos R$ 1,6 milhão, fizemos R$ 600 mil de investimentos com recursos próprios, buscamos R$ 500 mil de financiamento no BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais), o que mostra nossa capacidade de endividamento. Concluímos nossos patrimônios, fizemos todo o interior da faculdade, terminamos os dois últimos andares, instalamos dois elevadores, que era um sonho antigo e o que restou de acerto foram dívidas com a Previdência, que nós já estamos acertando, sendo que provavelmente os valores vão diminuir, e do endividamento com o BDMG falta pouco mais de R$ 200 mil. Então a Aciu hoje está inteira e pujante. Quando chegamos, a entidade movimentava R$ 4 milhões, hoje ela fatura algo próximo de R$ 8 milhões. A Aciu dava um resultado negativo de R$ 600 mil e hoje temos saldo positivo de R$ 600 mil, o que permitiu fazer tudo o que fizemos, principalmente ampliar a gama de serviços ofertados aos associados.
JM – Já que falamos em Educação, um dos desafios foi o Cesube?
KAM – Nesse momento também tivemos a oportunidade de absorver o Cesube, não a Fumesu (Fundação Municipal de Ensino Superior), e isso também nos orgulha. Além das escolas estarem retomadas com o prédio concluído, nós anexamos mais estes cursos e a atuação não foi só no ensino superior. Chegamos à Aciu em 2008, e quando fomos absorver o Cesube em agosto de 2009, em um ano já tínhamos revertido primeiro a questão da segurança da instituição quanto ao provável fechamento dos cursos. Nossa diretoria não tinha nenhuma dúvida de que era necessário mantê-la funcionando. Fizemos parceria com a Fundação Dom Cabral, com várias empresas de Uberaba de médio e grande portes, entre elas usina sucroalcooleira, empresa de estrutura metálica, empresas de logística e transportes, e até com entidades como a ABCZ ou seja, uma gama de empresas dos mais diversos segmentos da economia uberabense. E de parcerias como estas, estamos chegando nos 90 anos, já planejando os 100 anos da Aciu. Também fizemos parceria com a Fundação Roberto Marinho, com Eviva e Fundação Getúlio Vargas para implantar cursos técnicos e colégios para ensinos fundamental e médio. Para uma entidade classista formada por empresários de todos os segmentos, a Aciu entendeu a necessidade de investir em cursos técnicos para treinar os alunos para seu crescimento pessoal e o da empresa que o absorver. Hoje a lei diz que o jovem só pode ir para a empresa a partir de 16 anos e até os 18 não pode fazer parte do chão de fábrica e serviços externos, só serviço interno. Por isso, nós já treinamos duas ou três turmas para que esses jovens cheguem dentro da empresa conhecendo todo seu funcionamento, para que possam aproveitar essa primeira oportunidade para crescer. Hoje a Aciu recebe no sistema uma criança de quatro anos, trabalha toda a sua formação e pode entregá-la pós-graduada para o mercado de trabalho. A melhor forma de se distribuir renda é fazer crescer o bolo, e para nós o componente principal é a Educação. Nada melhora mais a vida de uma pessoa do que sua formação continuada, que permite sempre a capacidade de aprender a aprender. Quanto mais se estuda melhor é o rendimento e mais sucesso tem uma pessoa dentro de uma empresa e até para a gestão do orçamento pessoal. Esta é uma pincelada do que conseguimos fazer em quatro anos de gestão, nesta que é a área mais relevante para os associados, sociedade civil e nossa economia local e regional.
JM – E em relação aos serviços implantados em benefício da comunidade empresarial da cidade, o que foi feito?
KAM – Temos vários serviços agregados no sistema hoje, desde a entrada de um cartão de crédito, com treinamentos para que os consumidores gastem todo mês dentro de seu orçamento evitando gastar muito e com isso aumentar a inadimplência no comércio. Não podemos esquecer que em 50% a 60% das empresas há empresários, profissionais e colaboradores que passaram por cursos promovidos pela Aciu. Nós temos o Centro Judiciário de Solução de Conflito e Cidadania no Pace (Postos Avançados de Conciliação Extra Processual), em parceria com o CACD, CDMAE, Sebrae e TJMG, que acabamos de receber o prêmio Conde dos Arcos de Acesso à Justiça como primeiro lugar através de uma parceria institucional com a Prefeitura, mas também com nossos associados, em que quase R$ 3,5 milhões foram recuperados por meio de 87% de conciliações extra-judiciais com a chancela da Justiça. Isso fez a Aciu ser considerada a melhor ACE - Associação Comercial e Empresarial do Brasil neste segmento. Este prêmio fez com que participássemos inclusive de uma reunião com o Conselho Nacional de Justiça, porque a ideia é adotar este modelo, nossa experiência, e levar para 1.500 cidades no Brasil. Depois das dificuldades que enfrentamos nesses quatro anos, conseguir entregar a Associação redonda, tranquila e pacificada, e ainda ganhando prêmios, mostra que estamos no caminho certo. Isso sem contar que atuamos na área de tecnologia da informação, segurança, crédito, tributos, cultura, esporte, lazer, turismo, investimentos sociais, entre outros.
JM – E o que ficou por fazer?
KAM – Quando você me pergunta o que falta, só posso dizer que há sempre muita coisa que se pode fazer. Acabamos de ganhar uma ação na Justiça Federal e estamos chamando os associados para que façam o aproveitamento do benefício de não recolhimento do INSS patronal sobre verbas indenizatórias. Ou seja, toda contribuição que serve para formar a aposentadoria do trabalhador tem o recolhimento devido, só que o INSS cobra sobre um terço das férias, mas isso não é contado no salário quando da aposentadoria. Cobra sobre o décimo terceiro, mas só usa a contribuição de 12 salários no ano para compor a aposentadoria, então por que tem que haver recolhimento? Se o empresário uberabense associado recolhe essas verbas ditas indenizatórias deve nos procurar para regularizar. Temos também o sistema de proteção ao crédito. Nossa parceria com a CDL permite campanha como a do Natal deste ano distribuindo mais de mil prêmios, além de todas as datas comemorativas. Mas quanto mais se faz, mais há por fazer, porque mais se quer crescer. São projetos que nós começamos e nosso sucessor, que é candidato em chapa única, Manoel Neto, com certeza dará sequência, como à busca de uma associação garantidora de crédito e que de fato facilite o acesso a juros menores para o pequeno e médio empresários.
JM – Mas a Aciu também passou a se preocupar com a questão da segurança nesses quatro anos?
KAM – Sim, estamos trazendo para cá plataformas de segurança em parceria com a Polícia Militar, o Programa Celular Seguro e temos o Agentto, uma plataforma que transforma os celulares da população em câmeras de segurança. A ideia é chegar aos 20 mil pontos em Uberaba que é como se tivéssemos o programa Olho Vivo passando de 53 câmeras para 20 mil e 53 câmeras, fiscalizando a segurança na cidade em tempo real. Tudo isso em parceria com as forças de segurança. Será um avanço, porque este é um problema que atrapalha a entrada de novos investimentos na economia. Investimos também na área de turismo, não só por ligação com a Convention & Visitors, que eu também presido, mas por todas as ações para promoção de hotéis, bares e restaurantes em Uberaba. No esporte, realizamos a Taça Djalma Santos que contou com a participação de mais de 50 times de categorias diversas entre as empresas associadas, Prefeitura e Senai. Nós reunimos a família uberabense em torno da Aciu através de torneios para o filho, o neto, o pai e o avô usando a figura desse uberabense que é conhecido mundialmente. Fizemos vários investimentos sociais, sempre através de parcerias, como a campanha de Natal com as cartas dos Correios, com o Instituto de Cegos do Brasil Central, o Festival de Sorvete com o Rotary e a retomada das revistas em parceria com a Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Vamos lançar no dia 13, a 5ª revista Convergência e Saberes Acadêmicos.
JM – Em relação ao projeto do Jaime Lerner e as obras do Água Viva, o que está sendo executado e qual a previsão de finalização?
KAM – A Leopoldino de Oliveira está sofrendo alterações. Toda obra traz um transtorno ao comércio e à pequena indústria que está localizada na área central, as indústrias sofrem para a saída de seus operários no final do dia, que demora mais tempo. Nós do comércio e serviços, que estamos no centro, as obras dificultam o acesso aos clientes. Mas como as enchentes são um problema mais sério, a discussão é que a obra é um transtorno temporário e por isso a Aciu dá todo apoio aos associados. Dizemos até que aqueles que desejam fazer reformas em seus estabelecimentos o momento é agora. O certo é que o empresário que está no centro tem que se preocupar com isso, o Água Viva, e depois também com a implantação da mobilidade urbana. Em relação ao trânsito, Uberaba é a cidade com a terceira maior frota automotiva do Estado, com 160 mil veículos, sendo 45 mil motos, o que dá um carro e meio por habitação. O Jaime Lerner veio, inclusive dentro do planejamento do Grupo G9, a fim de fazer a reurbanização da cidade com propostas de trânsito conceituais. Identificamos 20 gargalos na cidade e ele cuidou de propor soluções para eles, uma delas inclusive lá na rotatória da ABCZ. Outra questão apontada por ele foi a mobilidade urbana com a implantação de um sistema de transporte de ônibus, semelhante ao sistema BRT, que imita o metrô de superfície. Hoje temos mais de 100 ônibus circulando de maneira desordenada no centro e o que deve ser reduzido para não mais do que 20 com objetivo de dar maior produtividade ao transporte coletivo. Além disso, ele sugeriu a melhora de algumas praças. Percebe-se que ainda estão implantando o conceito de Lerner. O comércio ainda não sentiu nem a dificuldade da implantação da mobilidade urbana, nem o ganho que virá com isso.
JM – Em relação a tempo, há alguma previsão?
KAM – Na condição de presidente da Aciu, o que sei é que até o final de 2012 a mobilidade urbana virá, as mudanças já estão ocorrendo. E também se discutiu muito em reuniões entre Aciu, CDL, Prefeitura e empresas da área central, as necessidades de modernização e revitalização do centro, porque é nítido que está mudando o eixo da cidade. O centro da cidade começa a migrar do mercado central para a Univerdecidade, em função das escolas federais, a saída do Fórum para o bairro Universitário vai distribuir o movimento, hoje concentrado no centro, para outros lugares, e o anúncio de um segundo grande shopping, além da terceira etapa do shopping atual, com certeza, trarão modificações às lojas do centro e até dos bairros. Quem está no comércio de bairro e no de ruas centrais tem de ficar atento a estas mudanças e tendências, porque nem é mais uma questão de mobilidade e sim de sobrevivência. Qualquer pessoa vai preferir a segurança de um shopping, mesmo que tenha que pagar o estacionamento, tendo tudo o que precisa para comprar em um mesmo ambiente, do que ter que andar por várias ruas do centro, independente de obras ou não. A questão do estacionamento é outro grande desafio futuro. A revitalização da ideia dos bolsões de estacionamento pode gerar parcerias público privadas. Enquanto presidente da Aciu temos trabalhado muito na busca de investidores para abertura de novos estacionamentos na cidade.
JM – E quanto à Agenda 2012 do Grupo G9, qual é o andamento?
KAM – Das 77 diretrizes da agenda comum, são mais de 50 ações realizadas para o desenvolvimento de Uberaba, como cidades-polos. Tivemos uma reunião do G9 esta semana que passou e a agenda está muito boa, tanto que estamos trabalhando agora e iremos trabalhar em janeiro de 2012 para apresentarmos ainda em fevereiro a agenda 2016. Vamos discutir o que fizemos, o que avançamos e prestaremos conta do que falta ser feito. Na agenda de 2012 da G9 verificou-se a necessidade de se recriar a Secretaria de Planejamento, principalmente para questões do ponto de vista urbano, e esta junção de entidades indicou nosso nome para assumir em nome do G9 mais este desafio que é a Seplan. A função desafiadora que só fez aumentar a nossa responsabilidade como presidente da Aciu.
JM – E quais são suas palavras finais?
KAM – Entrego a presidência da associação com a sensação de dever cumprido. Nosso intuito é trabalhar para o associado e por Uberaba, e esse é o conceito que norteou essa gestão. Acredito que, há muito tempo, Uberaba não vivia este momento. Isto porque sempre trabalhei combinando as premissas de fortalecimento interno da entidade, busca por melhoria contínua dos serviços prestados aos associados, sem esquecer a pluralidade da Aciu como agente de desenvolvimento da nossa Uberaba. Tínhamos a percepção que ela dormiu em berço esplêndido sendo ultrapassada nos últimos 40 anos, como polo de desenvolvimento, por cidades como Ribeirão Preto, Uberlândia e São José do Rio Preto. Acreditou-se que tudo aquilo que foi feito no passado se manteria, quando sabemos e praticamos que é preciso aprender com os erros do passado para melhorar o futuro. Gostaria de deixar meu agradecimento ao apoio dos 55 diretores que estiveram na Aciu nesses quatro anos, aos nossos colaboradores, à sociedade uberabense, seus poderes constituídos, imprensa, mas principalmente aos nossos associados, razão de ser da entidade. Não se faz nada sozinho. O reconhecimento é percebido, principalmente quando entregamos uma associação pacificada, em franco crescimento e com candidatura única à sucessão.
Fonte: carmen